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A Igreja São Francisco de Assis e Santa Clara pertence à Paróquia Santa Luzia de Votuporanga, está situada à Rua Cardoso s/nº no Bairro Parque das Brisas/CECAP II (perto do Clube dos 40) e tem como pároco o Pe. Silvio Roberto. “Ponha a mente no espelho da eternidade. Coloque a alma no esplendor da Glória. Ponha o coração na figura da Substância Divina e transforme-se inteira pela contemplação na Imagem da Divindade.” “Nós vos adoramos Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas Igrejas, que estão no mundo inteiro e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo!”.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Batismo do Senhor: Renascimento da Humanidade


Fechando o ciclo das festividades natalinas, a liturgia nos convida a celebrarmos a Festa do Batismo do Senhor. Antes, a hodierna festividade se nos apresenta como um convite à renovação; à mudança de vida e sincera conversão. É uma abertura do homem a Cristo; e mais que isso: é uma incessante busca por algo que só Ele pode oferecer. Por isso, o Batismo não somente é uma imersão em água, mas é também uma imersão no próprio Cristo, e ao sair desta água não mais sai um ser humano manchado pelos pecados, mas purificado e limpo de toda a culpa que antes lhe atormentara.
Santo Agostinho escreve em suas Confissões sobre a transformação que o Batismo casou-lhe em vida: “Fomos batizados, e desapareceu qualquer preocupação quanto à vida passada” (IX Livro, 6). Ora, considerava-se ele em estado de pecado devido a todas as transgressões cometidas, mas, por meio do Batismo, todas as suas faltas foram perdoadas. Esta verdade é atualizada pelo II Concílio do Vaticano ao afirmar:
“O único Mediador e o caminho da salvação é Cristo, que se nos torna presente no Seu corpo, que é a Igreja. Ele, porém, inculcando com palavras expressas a necessidade da fé e do batismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), ao mesmo tempo confirmou a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo batismo como por uma porta. Por isso não podem salvar-se aqueles que, sabendo que a Igreja Católica foi fundada por Deus através de Jesus Cristo como instituição necessária, apesar disto não quiseram nela entrar ou nela perseverar.” (Lumem gentium, 14).
Aqui suprime-se a ideia de que todas as religiões são boas ou iguais. A única religião fundada por Cristo, por meio da qual somos chamados a tornarmo-nos membros pelo Batismo, foi aquela a que Nosso Senhor confiou às primícias da fé, e à qual confiou a chefia a Pedro. Esta verdade não contrapõe o desígnio salvífico do Senhor de que todos os homens se salvem; pelo contrário, em conformidade com as Escrituras, “é necessário, pois, manter unidas estas duas verdades, ou seja, a possibilidade real da salvação em Cristo para todos os homens e a necessidade da Igreja em ordem a esta mesma salvação” (Redemptoris missio, 9).

O Santo Padre Bento XVI recentemente recordou: “Só a Verdade salva!” (Discurso à Cúria Romana, 2010). Esta verdade encontra-se em Cristo, Cabeça da Igreja, como bem recordou São João: “Se alguém chega até vós trazendo outra doutrina que não esta, não o recebais em casa, nem o cumprimenteis. Pois quem o cumprimenta participa de suas más obras” (2Jo 10). Certamente as outras religiões oferecem colaborações importantes como ações do Espírito entre os homens, mas a estes não se pode atribuir origem divina e a graça da invencibilidade.

Retornando, porém, ao tema do Batismo detenhamo-nos no quadro bíblico a nós proposto.

A primeira leitura do livro do profeta Isaías traz em si uma rica passagem sobre a ação messiânica de Jesus, e sobre sua missão neste mundo: “Eis o meu servo, dou-lhe o meu apoio. É o meu escolhido, alegria do meu coração. Pus nele o meu espírito, ele vai levar o direito às nações. Não grita, não levanta a voz, lá fora ninguém escuta o que ele fala”(42, 1-2).

Ora, estamos diante de uma figura comumente usada nas Escrituras sagradas: o servo. Jesus faz-se servo para todos. Tanto no seu nascimento, como em sua vida, e também na sua morte e ressurreição ele está a serviço. Ele não vem como rei poderoso e soberano, mas vem na fragilidade de uma criança e aceita ser batizado por João.

Ele é O escolhido, e isto caracteriza a sua missão. Sua escolha não é um ocaso do destino ou uma ideologia criada por galileus e sustentada por fanáticos seguidores, mas vem do Pai. Ele, consubstancial ao Pai, faz-se um de nós, e entre nós instala a tenda da salvação, onde todos são chamados a abrigar-se. Nele está o Espírito Santo, e isto o faz sempre mais fiel à sua missão. O Espírito que foi a Ele confiado também é-nos confiado hoje, e confiado à Igreja.

Mas nosso Deus não é um Deus que grita, que é irado, que gosta de exercer seu poder de justiça sobre os homens. Muitas vezes assim no-lo vimos, mas a sua essência é amor e misericórdia, e esta é possível notá-la, sobretudo, pelo batismo. A justiça de Deus – como recordamos noutras vezes – não parte de uma decisão última d’Ele, mas nossa. Somos nós que poderemos nos dirigir para o céu ou para o inferno.

“Eu te formei e te encarreguei de seres a aliança do meu povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros, da masmorra os que estão na prisão escura” (Is 42, 6-7). Estas palavras ecoam perpassados esses pouco mais de dois mil e onze anos. Jesus, na última ceia, anuncia a Nova e Eterna Aliança, que é dada a todos os homens, e esta foi firmada com Seu sangue derramado na cruz.

Também hoje pedimos ao Senhor que venha realizar plenamente a sua promessa messiânica. Pedimos que venha trazer a visão a todos quantos estão cegos pelos prazeres do mundo. Pedimos que venha libertar do cárcere da arrogância e da ganância aqueles que buscam uma falsa felicidade fora de Cristo. Pedimos que retire da masmorra os que estão presos pelo mundanismo e obcecados pelos prazeres temporais.

Esta unção do Espírito proclamada por Isaías é colocada de forma clara no Evangelho e, de certa forma, é um mistério a ser desvendado. “Depois de ser batizado, Jesus saiu da água, e o céu se abriu. E ele viu o Espírito de Deus descer, como uma pomba, e vir sobre ele. E do céu veio uma voz que dizia: ‘Este é o meu Filho amado; nele está o meu agrado’” (Mt 3, 16-17).

Sim, Jesus é o predileto do Pai, e Deus o envia para que todos reconheçam n’Ele a graça da salvação. Ainda assim nem todos o escutaram [escutam]. Muitos rejeitaram suas palavras e ainda as rejeitam. O Espírito vem sobre Jesus: esta é a prova concreta de que Ele estava ratificado por Deus para o cumprimento de sua missão. Também sobre os que recebem o sacramento do batismo o Espírito desce e unge com seu poder, para que sejam destemidos e não se ocultem no anúncio da verdade.

“Mas o que há propriamente novo não é isto, que Jesus venha de uma outra região geográfica [da Galiléia], por assim dizer, de longe. O que é verdadeiramente novo é que Jesus queira ser batizado, que entre na multidão triste dos pecadores, que aguardam nas margens do rio Jordão” (Papa Bento XVI, Jesus de Nazaré, pag. 32).

O batismo implicava precisamente a conversão. Era uma entrada em nova vida; um despojamento de uma vida antiga marcada pelo pecado. Poderia Jesus fazê-lo se Ele não tinha pecados?

Quando Jesus ia batizar-se João trava um diálogo com Ele: “’Eu é que devo ir a Ti, e Tu vens a mim?’ Ao que Jesus lhe diz: ‘Deixe agora como está, pois convém que se cumpra toda a justiça’” (Mt 3, 14-15). Que justiça seria esta que nos fala o Cristo?

Ele mesmo é a Justiça de Deus. E em seu nome está resumida toda a justiça que realizar-se-á com os homens. Para realizar plenamente o sentido salvífico de sua missão, Jesus se insere no lugar dos pecadores. Aqui vemos a antecipação da cruz. Com seu batismo Jesus toma os nossos pecados e os mergulha consigo no Jordão. Aqui acontece, por assim dizer, um “renascimento” da humanidade, pois o Senhor da História, assumindo condição humana, revitaliza tudo o que antes era perdido pelo pecado.

Ora, se nos fixarmos em contemplar a sua morte veremos que esta descida de Jesus, sua imersão na água, faz-nos recordar de sua descida aos infernos, onde lá sepulta o peso de nossos pecados. A voz celeste que se dirige a Ele também prefigura a sua gloriosa ressurreição. Não permanecendo na sombra da morte, mas restaurando todas as coisas em Si, por meio de Seu sacrifício, Jesus cumpre a profecia que estava oculta na voz. E assim encontramos a centralidade deste mistério envolto no cenário do batismo.

Que possamos ser fiéis à nossa missão de discípulos de Cristo. Pois ninguém é obrigado a ser cristão, mas todo cristão tem o dever de ser missionário, assumindo seu batismo.

Que a Virgem Santíssima nos abençoe e nos guie nesta missão!

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